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Trump. Por Pedro Nascimento Araujo


Trump

Começou com um certo ar de fanfarronice, de algo que parecia mais uma investida publicitária do que uma ação séria. Progressivamente, viu-se que não era bem isso. O senhor dos combovers (técnica de penteado que permite ocultar carecas sem recorrer a implantes ou perucas) estava falando sério: Donald Trump era realmente candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos da América. Passado o susto, as pessoas começaram a considerar a hipótese de uma vitória dele em novembro deste ano. E, grosso modo, ninguém gostou do que viu. As reportagens no Brasil e no mundo são um uníssono de reprovação, com destaque para a capa da The Economist, com o milionário caracterizado como Tio Sam e apenas uma pergunta: “Sério?” (“Really?”), ou a impagável capa da Mad, que trazia ele e o icônico Alfred E. Newmann, com uma troça com o slogan do topetudo: “Fazendo os EUA idiotas de novo!” Sempre fica a impressão de que Donald Trump não é sérios. Que não passa de um idiota que não sabe o que faz. Que é um ultraconservador que vocifera contra tudo e contra todos a esmo. Enfim, que é uma piada. Talvez seja hora de repensar isso. Donald Trump pode ser muitas coisas, mas idiota ele decididamente não é.

Primeiramente, não é factível que um idiota tenha construído o império que Donald Trump construiu no setor no qual ele é mestre: incorporação de imóveis. Não há amadores em um negócio como esse. Donald Trump fez fortuna comprando propriedades urbanas na baixa, construindo ou reformando, e revendendo na alta. Isso demanda tino comercial apuradíssimo. Parece brincadeira, mas a maioria das pessoas compra na alta e vende na baixa. Se algo (imóvel, ação, moeda etc.) está se valorizando há um tempo, então as pessoas passam a comprar aquele algo na esperança de que a valorização vá continuar. Em bom português, as pessoas em geral compram na alta. E não alcançam a alta que esperavam, basicamente, porque quem está vendendo na alta é quem comprou na baixa: quem está lucrando. Achando pouco, em geral, quando o preço começa a cair, as pessoas vendem por temer que o preço possa cair ainda mais. Ou seja, as pessoas vendem na baixa. E vendem exatamente para aquelas pessoas que se aproveitam da baixa para comprar quando todos os incautos vendem – e lucram vendendo na alta, quando todos os incautos compram. Em termos de negócios, Trump, portanto, não é um tolo: sabe exatamente o que fazer para ganhar dinheiro e sempre teve nervos de aço para não se desviar de seus objetivos. Idem para sua carreira pública, como celebridade social transformada em ás do entretenimento televisivo. Mundialmente famoso por seu show “O Aprendiz”, Trump fica muito à vontade diante das câmeras, uma característica que lhe rende vantagens palpáveis nos debates televisionados contra os anódinos pleiteantes ao papel de candidato presidencial do Partido Republicano. Mas não basta estar à vontade. Tiririca também domina as técnicas televisivas e nem por isso se cogita a hipótese de o palhaço um dia subir a rampa do Palácio do Planalto para ser empossado. Há um fator que diferencia Trump: tudo o que ele faz – e que gera manchetes ao redor do mundo – é deliberado. O candidato Donald Trump é a melhor personagem que o homem Donald Trump jamais criou.

É uma coisa recorrente no sistema eleitoral presidencial americano. Um admirador dos Estados Unidos diria que o país é tão democrático que até para ser candidato há eleições, enquanto um detrator diria que os americanos conseguem complicar até a escolha de um mero candidato presidencial. Independentemente disso, o fato é que o sistema de eleições primárias segue um roteiro pré-definido: no começo, todos os candidatos que estão enfrentando adversários competitivos buscam se diferenciar dos demais. Não há maneira melhor de fazer isso do que se apresentado mais para um polo do que para o centro. Normal. Com isso, garante os votos da minoria extremista, enquanto os demais se digladiam pelo voto da maioria centrista. Pragmaticamente falando, adotar um discurso extremista no momento das primárias é uma estratégia vencedora. Donald Trump entende de adotar estratégias vencedoras: fez isso a vida toda. Portanto, quando ele propõe coisas que sabe não serem factíveis, dos muros contra mexicanos à ideia de produzir iPhones nos EUA, não o faz por acaso. Trump fala essas coisas para atrair eleitores que se identificam com elas – idiotas para quem não gosta deles, autênticos para quem gosta. Porém, no processo eleitoral americano, findas as prévias vêm as eleições gerais em si. E nesse momento, a estratégia vencedora muda. Se, antes, ficar nos polos era vantajoso contra muitos adversários, quando há apenas dois isso passa a ser derrota na certa: quem escolhe um dos polos deixa o outro polo e todo o centro para o adversário. Derrota garantida. Por isso, a campanha eleitoral americana é, em última análise, uma disputa entre propostas virtualmente iguais que acaba sendo definida pela empatia maior do público com um dos contendores. Todos buscam o centro. Não há porque ser diferente com Donald Trump.

Trump sendo um candidato de centro tira toda a porção assustadora da brincadeira. Na verdade, há uma bela pegadinha nisso: na verdade, Trump pode se provar bem menos chegado aos polos do que seus concorrentes à indicação republicana. O fato é que nada se conhece sobre as práticas políticas de Donald Trump. E isso por uma razão simples: Donald Trump não tem passado como político. Assim, toma-se pelo valor de face o que ele diz, uma vez que não há histórico sobre o que ele faz. No mínimo, arriscado; no mais provável, amadorismo. Por isso, prejulgar Donald Trump é um erro colossal. De fato, ele pode tanto se mostrar o que suas declarações parecem indicar quanto se tornar um grande estadista. De novo: simplesmente não há base de comparação. O que se sabe é inquestionável: Donald Trump caminha a passos largos para se tornar o candidato republicano para a Casa Branca em novembro deste ano. Sim, é um fato novo. Daí a ser um fato tão preocupante como muitos analistas defendem há um longo caminho. Trump está no jogo. E, até aonde se sabe, ele não é o tipo de pessoa que entra em campo para perder...
  

Pedro Nascimento Araujo é economista.

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