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Os Corruptos do Nem e o Futuro das Polícias do Rio de Janeiro.



Por Pedro Nascimento Araujo

Com a ocupação das favelas Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, facilitada pela anterior fuga e prisão do chefe do tráfico de drogas da região, a cidade do Rio de Janeiro fica com virutalmente todas as suas áreas críticas para a segurança dos grandes eventos esportivos de 2014 e 2016 pacificadas, exceção única à regra sendo os conjuntos de favelas da Maré, que deve ser pacificado no ano que vem. Trata-se, sem dúvidas, de boa notícia que transcende seus efeitos imediatos: a manutenção da paz nas áreas retomadas passou a ser moeda política - nenhum governador quererá entrar para a história como aquele que permitiu o retorno dos traficantes.

Todavia, o assunto de hoje não é a pacificação. O assunto de hoje é a segurança pública do Rio de Janeiro. Com a pacificação, deixa de fazer sentido a política de confrontação violenta. Uma vez que o chamado Complexo da Maré seja retomado em 2012, a necessidade de grandes incursões às favelas, com blindados, helicópteros e homens com fuzis, tende a reduzir-se cada vez mais. E isso é ótimo, porque nos permite pensar na polícia que queremos ter doravante. Teremos muitas opções, todas derivadas de uma única certeza: não queremos que seja como a atual.

Após ser preso, Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, declarou que metade da renda que aferia com suas atividades criminosas era dividida com a polícia. Considerando que o bandido não teria motivos para mentir e segundo estimativas da própria Polícia Civil, Nem faturava em torno de 10 milhões de reais ao mês, chegamos à conclusão de que os policiais corruptos ganhavam 5 milhões por mês para que Nem não fosse incomodado. É muito dinheiro. É muito policial corrupto. Simplesmente, não é possível pagar para ter uma polícia assim, ineficiente para trabalhar e eficiente para extorquir bandidos. Os avanços obtidos com a pacificação certamente não podem eclipsar tantos casos como o do menino Juan ou da juíza Patrícia. Aliás, não podem eclipsar os índices de resolução de homicídios que, de tão baixos (em torno de 5%), mais parecem margem de erro. A própria prisão de Nem deixou isso bem claro: ele tentou fugir escoltado por policiais.

Estamos, portanto, diante de uma oportunidade rara: passada a pacificação, podemos fazer a limpeza da polícia. A receita é conhecida, de Nova Iorque a Bogotá, e vem sendo seguida por São Paulo há 2 décadas com resultados muito positivos - lá, o estopim foi a atuação do Soldado "Rambo" na Favela Naval, em Diadema, região metropolitana da capital, que foi filmada e escandalizou o Brasil. São Paulo, Bogotá - que foi controlada por traficantes até a retomada na década de 1990, que é sempre citada como exemplo pelo próprio governo do Rio de Janeiro - e Nova Iorque limparam suas polícias, assim como Los Angeles, cuja polícia também está passando por um processo depurativo, e cujo destaque negativo mundial foi o vazamento das imagens do espancamento de Rodney King nos anos 1990, e várias outras cidades ao redor do mundo. A receita, além de conhecida, é simples, porém de dificílima execução, e inclui tolerância zero com corrupção, mecanismos de avaliação objetivos e transparentes, valorização da carreira profissional e participação constante e ativa da sociedade.

Na prática, isso quer dizer que muita gente terá de ser demitida por corrupção, em todos os escalões e nas duas polícias, além do Corpo de Bombeiros Militar, cujos integrantes são presença assídua nas milícias. O governo estadual alardeia que nunca tantos policiais foram expulsos quanto atualmente. Verdade. A criação da Corregedoria Unificada e o apoio que a cúpula da Secretaria de Segurança Pública dá a esse órgão explicam em larga medida o resultado. Porém, ainda é pouco, muito pouco - e os 5 milhões de reais mensais que Nem alega haver pagado em propina são prova cabal. A prova de fogo será o empenho em fazer Nem apontar quem eram seus beneficiários dentro das polícias, ainda que às custas de delações premiadas, e o quão exemplarmente serão punidos. Se passar nesse teste, nossa polícia, cuja reação teve como símbolo inicial a derrubada de um helicóptero por traficantes, terá na expulsão dos corruptos do Nem mais um símbolo inicial, desta vez de um lento, doloroso e inexorável processo purgativo. Que o trabalho prossiga e se aprofunde. Ainda há muito por fazer e a desconfiança da sociedade, após décadas de polícia ineficiente, violenta e corrupta, ainda é grande - mas, aos poucos, começa a melhorar.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

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