Hoje vou puxar sardinha pro meu lado e falar sobre
artesanato.
De tanto ouvir e sentir na pele
as práticas do descaso e discursos com uma total falta de conhecimento sobre
essa arte milenar, que foi uma das primeiras manifestações artísticas do ser
humano, antes mesmo dele aprender a falar. O artesão é considerado por
muitos políticos como ambulantes. Mesmo que ele tenha sido um dos
primeiros profissionais informais , desde da época em que as sociedades
primitivas fabricavam seus artefatos , esse artista é confundido
com outras atividades de revenda, que não tem nenhum apelo artístico ,
cultural, muito menos de atração turística.
Mas o político talvez por puro
desconhecimento e nenhuma vontade de buscar aprender ou conhecer sobre esse
segmento tão importante por tantas razões econômicas, sociais, turísticas
e culturais, ainda comete o erro de comparar o artesão ao vendedor
de rua, que sem nenhum resquício da minha parte de demonstrar qualquer
despeito, é muito mas valorizado do que os profissionais que passam horas
dentro de seus ateliês, produzindo arte.
Toda vez que escuto , tanto da
parte do poder público de hoje , como também dos candidatos a prefeito o foco
no turismo, fico me perguntando em que realidade eles vivem? Já que não
pode se pretender qualificar esse setor, apresentando para esses visitantes uma
identidade cultural totalmente fora do nosso contexto.
Imagino com o advento da Copa e
das Olimpíadas e de Cabo Frio como cidade de rota turística, vários
estrangeiros querendo conhecer um pouco da cultura de nossa cidade e
levar para o seu país uma recordação de nossa terra, encontrando na feira de
artesanato, toda sorte de produtos industrializados made in China e Paraguay.
Seria um choque, não seria?
Mas para o governante sem noção,
talvez isso não cause nenhum constrangimento, afinal quem vai levar fama de
indigente é nossa cidade, por que cidade que não valoriza sua cultura
,não tem identidade. Infelizmente nós artistas ainda teremos que ouvir de
algum turista surpreendido com tamanha falta de sensibilidade.
- Mas é este o artesanato de Cabo
Frio?
E pra nós que batalhamos
tanto para valorizar nosso segmento ainda teremos que responder.
-Fazer o que, se o próprio
poder público não sabe a diferença de artesão e ambulante?
Parece piada, quando todos se
dizem preocupados com a qualificação do turismo , com o incentivo as escolas
técnicas de formação de profissionais, com a melhoria dos nossos hotéis e seus
serviços, com a transformação de praças, parques e até bairros como
nichos de exploração turística, mas ninguém lembra do artesanato , um dos
principais segmentos de atração, valorizado nas grandes cidades de pólo
turistíco do Brasil, mas infelizmente renegado em Cabo Frio a quinta
categoria, vindo atrás até do ambulante, que segundo um candidato a prefeito
terá total apoio , pois é ele que representa o primeiro contato direto com
nosso visitante.
Realmente para os artesãos que
estão nessa terra há mais de 40 anos , enfrentando toda sorte de intempéries da
natureza, ainda carregando nos ombros o peso de suas mercadorias e de suas
barracas, ouvir esse tipo de coisa, causa-nos uma profunda decepção, pois
entendemos que o artesanato ainda não é respeitado nessa cidade e o artesão não
merece de ser um orgulho para esses que nos governam.
Se ninguém se importa, de verem
áreas voltadas para a cultura serem sucateadas, é porque nossa cidade
ainda vive uma triste realidade de mentes tacanhas no poder, preocupados
com seus próprios umbigos.
Só posso dizer que lamento, pois
o artesão é um profissional que nasceu com o dom de transformar matéria-prima
em arte, ele não é um trabalhador que por não ter condições, oportunidades de
estudo ou de profissionalização resolveu trabalhar com artesanato. Ele nasceu
assim, amando criar e fazer arte porque gosta. Fazer artesanato é uma
habilidade nata, uma escolha e não uma falta de opção.
Mas contra isso, vou continuar
batendo na mesma tecla, porque dizem que água mole em pedra dura, tanto bate
até que fura! Quem sabe assim, fura a cabeça dos governantes e ele passem
a reconhecer essa máxima:
ARTESÃO NÃO É AMBULANTE!
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