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Cachorros Velhos. Por Pedro Nascimento Araujo


Segundo o dito popular, cachorros velhos não conseguem aprender coisas novas. A julgar pelo apoio declarado das cúpulas do Partido dos Trabalhadores (PT), do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) ao início do processo de institucionalização da ditadura venezuelana (leia-se elaboração de nova constituição), os simpáticos canídeos levam a culpa sem razão: se há alguém que não aprende coisas novas é a esquerda brasileira, nova ou velha. É bom que se diga desde já que não são apenas o PT e o PSOL: não nos olvidemos dos obsequiosos e covardes silêncios das cúpulas dos demais partidos de esquerda, definidos aqui como os que orbitam mais ou menos escancaradamente ao redor do PT, mas toda a esquerda. É lamentável porque o Brasil precisa, mais do que nunca, de uma esquerda inteligente e progressista, não de uma esquerda cega e reacionária – evidentemente, também precisamos de uma direita inteligente e progressista, mas isso é assunto para outra conversa. Ao defenderem o indefensável (nominalmente: a ditadura venezuelana), as lideranças da esquerda brasileira prestam um inacreditável desserviço à própria esquerda brasileira. Por que fazem isso? Fiquemos com uma analogia canina: por aquilo que Pavlov definiu como reflexo condicionado – e cães com reflexo condicionado decididamente não aprendem coisas novas.

O russo Ivan Pavlov é o nome por trás do conceito de reflexo condicionado. Em suas experiências com cães (muitas das quais certamente são inaceitáveis pelos atuais padrões de ética para o tratamento de animais em laboratório), Pavlov provou que é possível gerar uma resposta física a um estímulo externo – no caso da pesquisa, os animais foram acostumados a ser alimentados após o som de uma campainha e, com o tempo, passaram a salivar em preparação para a refeição ao escutar o som (são particularmente perturbadoras as imagens de coletores de saliva presos cirurgicamente aos cães para provar que a produção de saliva dos animais condicionados era significativamente maior), independentemente de receberem o alimento. Bastava a campainha tocar. É mais ou menos o que ocorre com as cúpulas de PT e PSOL: basta que um tirano qualquer se declare socialista e pronto: saliva escorre, independentemente de haver comida no prato. E comida no prato, decididamente, é algo que não há na Venezuela de Nicolás Maduro. Antes de prosseguirmos, é importante notar que as notas das cúpulas de PSOL e PT não foram unanimidades nas bancadas de ambos os partidos. Houve declarações reclamando de ausência de consulta e mesmo improbabilíssimos casos de políticos lamentando o apoio dado a uma ditadura; todavia, como a estatística sempre se impõe, a reação foi uma posição minoritária, efêmera e sem efeitos práticos – o que prevaleceu foi um constrangedor apoio à ditadura nada discreta que Nicolás Maduro vem implantando no país caribenho. As vozes dissonantes, também é bom que se diga, não fizeram desse criminoso apoio uma hipótese de rompimento com os respectivos partidos e, por continuarem com as mãos sujas com o sangue dos venezuelanos mortos pela ditadura chavista, não merecem ter seus nomes registrados em separado; aliás, as notas e declarações das cúpulas dos partidos, de tão abjetas, também não merecem registro. O que merece registro é a incapacidade da esquerda de reconhecer que os seus erram – numa boa: se, com 100 anos de existência do comunismo e um saldo 100 milhões de mortes causadas diretamente, sendo cediço que essa ideologia é semelhante às grandes religiões e aos grandes impérios da história graças à capacidade intrínseca de promover genocídios em seu nome, ainda não são capazes de reconhecer problemas, talvez seja melhor perder as esperanças.

O Brasil só tem a ganhar com uma esquerda que aprenda truques novos. O cacoete ancestral das cúpulas dos principais partidos da esquerda brasileira de apoiar qualquer ditador que fale mal dos Estados Unidos, por pior que seja, deveria ser uma vergonha enterrada no passado há muito – mas não é: está aí, em plena luz do dia, mostrando sua face horrorosa ao apoiar o inacreditável que Nicolás Maduro vem paulatinamente transformando em inevitável em nossa fronteira ao norte. A situação na Venezuela é tão ruim que é difícil até saber por onde começar qualquer análise. Os direitos de primeira geração (civis, políticos e religiosos) estão absolutamente vilipendiados, mas há direitos de segunda geração (econômicos, sociais e culturais) também em frangalhos – e mesmo os chamados direitos de terceira geração (direitos da coletividade, como meio-ambiente) são solapados diuturnamente. O Mercosul deixou a tergiversação do Uruguay de Tabaré Vásquez de lado, chamou gato de gato e suspendeu a Venezuela por ser o que é: uma ditadura. A Organização dos Estados Americanos (OEA), aonde as decisões são por maioria, caminha para a mesma ação (apenas a título de nota: a UNASUL simplesmente não tem a seriedade e a maturidade necessárias para que tal medida seja tomada), o que tende a isolar ainda mais a imberbe ditadura chavista. Se prestarmos atenção nas lições que a história nos ensina, perceberemos facilmente que ditaduras têm como objetivo primordial a manutenção do poder – e, para governos assim, tudo farão para esse fim, fazendo da perfídia uma tática válida. Com efeito, é nesse estágio que se encontra a ditadura de Maduro. Stálin, Mao Zedong, Pol Pot, Fidel Castro e outros genocidas da mesma corrente ideológica de Nicolás Maduro arrasaram as economias de seus países ao implantar o comunismo à força (trata-se de pleonasmo meramente estilístico, sendo cediço que, em absolutamente todas as vezes, o comunismo foi implantado à força) e, ao invés de admitir o erro, insistiram com a força das baionetas, piorando a tragédia, redobrando as violações de direitos humanos enquanto aprofundavam as fomes que criaram e alimentaram ex-officio.

Não há, portanto, qualquer razão para se imaginar que seria diferente com a Venezuela sob a ditadura de Nicolás Maduro: ele tende a agravar ainda muito mais a situação de seu país antes de sair do comando. De fato, há temores fundados de que a Venezuela esteja caminhando velozmente para uma guerra civil – em nossa fronteira. Ao invés de levar esse fato em conta, os partidos de esquerda preferem reeditar a surrada tática diversionista de culpar o Grande Satã por tudo. Seria apenas infantil, mas é o suficiente para se ter como certo que não há porque se imaginar que os pares ideológicos brasileiros de Nicolás Maduro (nominalmente falando: as cúpulas dos partidos de esquerda) admitirão que estão apoiando um regime que é a própria encarnação do que há de pior na moral humana, capaz de violar as três gerações de direitos humanos concomitantemente. É pena que, mais uma vez, a esquerda, por mero reflexo condicionado, apoie a ditadura de Maduro e fique do lado errado da história, do lado errado da política, do lado errado dos direitos humanos. É muito ruim para o amadurecimento da política no Brasil que a esquerda continue agindo como um cachorro velho, incapaz de aprender coisas novas.

Pedro Nascimento Araujo é economista.
nascimentoaraujo@hotmail.com

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