Nesta semana, o Partido da Social
Democracia Brasileira provou que é o maior eleitor de Lula da Silva. Ao decidir
participar da inacreditável sessão que manteve Aécio Neves livre da prisão e
com o mandato senador por mais um ano, o PSDB se igualou ao que há de pior em
termos de fisiologismo e de corporativismo da política brasileira. E, na atual
conjuntura, dado o objetivo declarado de vencer as eleições presidenciais de2018,
é difícil pensar em algo mais inútil para o PSDB do que salvar Aécio Neves. No
fundo, o partido entende que tirou o pescoço de Aécio Neves da guilhotina para
vê-lo perecer sob o pelotão de fuzilamento dos eleitores em 2018: Aécio Neves
não apenas não será capaz de reeleger-se senador, como terá sérias dificuldades
mesmo para eleger-se deputado. Portanto, ao sacrificar-se para fornecer um
pálio protetivo político a Aécio Neves, o PSDB não foi apenas claudicante, como
de costume, mas também adicionou uma grossa camada de estupidez estratégica aos
seus defeitos – ao se igualar ao que há de pior na política nacional, fornece
farta munição para o discurso jamais pronunciado abertamente e sempre reforçado
pelo Partido dos Trabalhadores: se todos os partidos e todos os políticos são
iguais, então Lula da Silva é a melhor escolha para 2018. Ao escolher ser
medíocre, o PSDB praticamente recomenda o voto em Lula da Silva. O PT agradece.
A decadência de Aécio Neves não é
novidade: do zênite de 2014, quando chegou muito próximo do Palácio do Planalto
em 2014 e, de fato, qualificou-se como pule de dez para 2018 (a atávica
incompetência de Dilma Rousseff garantiria o PT fora do páreo) para a decantada
volta do PSDB ao poder em 2018, ao nadir de 2017, quando a gravação de Joesley
Batista veio a público, ele só conheceu decadência. Nesse meio tempo, a
Operação Lava-Jato e suas congêneres já vinham transformando Aécio Neves em um
político na defensiva, daqueles que não podem aparecer em público, mas nada
antecipou o que o Brasil ouviu naquela gravação: a desfaçatez com que ele trata
de dinheiro com o empresário corruptor confesso levou seu quadro clínico
político ao estado terminal. Aécio Neves provou que, apesar das origens
familiares absolutamente distintas, Aécio Neves e Lula da Silva falam
privadamente com arrogância e grosserias semelhantes – e mantém relações
promíscuas com empresários semelhantes demais. Dos grandes nomes da política
brasileira, Lula da Silva é o mais chamuscado pela Operação Lava-Jato, notadamente
porque foi nos governos dele que a corrupção passou a ser tática de manutenção
de poder. Mas o aprofundamento das investigações prova que, se Lula da Silva é
o maior peixe, isso não significa que seja o único a refestelar-se no mar de
lama da política brasileira. O discurso de vítima de perseguições políticas que
ele impunha ao PT já foi há muito abandonado. Sutilmente, Lula da Silva, sendo
mais do que nunca o animal político fabuloso que sempre foi, vem mudando o foco
para falar de suas realizações na Presidência da República. Ele não é tolo a
ponto de repetir publicamente o slogan do adhemarismo (o infame “Rouba, mas
faz!”), mas esse é, na prática, o seu mote: “Já que nenhum político é honesto,
pelo menos Lula é competente!” A guinada de Lula da Silva é melhor evidenciada
pelo distanciamento paulatino que ele vem tomando dos desastrosos governos de
Dilma Rousseff – em recente entrevista concedida ao jornal espanhol El País,
ficou bem claro que ele atribui a Dilma Rousseff a atávica incompetência
administrativa de Dilma Rousseff, como se ele tivesse sido o único responsável
pela eleição e pela reeleição dela. Ao proteger Aécio Neves, o PSDB dá força à
tática de Lula da Silva.
Noves fora o silêncio vergonhoso
de Fernando Henrique Cardoso acerca do assunto (é impossível ignorar o fato de
que uma declaração contundente da parte dele teria evitado tão irreparável
desgaste para o PSDB) e ainda que não favorecesse diretamente seu maior
adversário, mesmo assim a decisão do PSDB de defender Aécio Neves chamaria atenção
por sua completa inutilidade: manter Aécio Neves com o mandato de senador por
mais um ano serve apenas para sangrar o PSDB por mais um ano. Não há lado
positivo para o partido. O PSDB perdeu definitivamente a chance moral de provar
que é capaz de cortar na própria carne, que não compactua com malfeitos, que
tem compromisso inabalável com a ética na política e, principalmente, que não é
igual aos demais partidos políticos. Na hora crítica, quando foi colocado à
prova, o PSDB piscou e preferiu salvar o pescoço de Aécio Neves a se salvar:
provou que não é capaz de cortar na própria carne, que compactua com malfeitos,
que não tem compromisso inabalável com a ética e, principalmente, que é igual
aos demais partidos políticos. Melhor recomendar o voto em Lula da Silva de uma
vez.
Pedro Nascimento Araujo é
economista.
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