RIO - O físico Marcelo Gleiser, de 60 anos, foi anunciado nesta
terça-feira, dia 19, o vencedor do prêmio Templeton, honraria que já foi
concedida a Madre Teresa de Calcutá (em 1973) e Dalai Lama (em 2012). O prêmio,
uma "espécie de Nobel da espirituralidade", como define o vencedor, é
entregue a profissionais que tenham feito "uma contribuição excepcional
para afirmar a dimensão espiritual da vida, seja por insights, descoberta ou
trabalhos práticos", segundo a Fundação Templeton.
A honraria — no valor de 1,1 milhão de libras esterlinas (cerca de R$
5,5 milhões) — será entregue oficialmente numa cerimônia em Nova York, no dia
29 de maio. Trata-se de um reconhecimento pelos 35 anos de trabalho do físico e
cosmólogo nascido no Rio e radicado nos Estados Unidos. Gleiser é professor de
Física e Astronomia e ocupa a cátedra Appleton de Filosofia Natural no
Dartmouth College, em Hanover, nos EUA. Sobre o Templeton, ele
explica, não se trata de um prêmio de religião.
— Quando se fala em religião, pensamos em algo
institucionalizado, como cristianismo, islamismo e budismo, por exemplo.
Espiritualidade é um termo muito mais amplo que tem a ver com a nossa relação
com o mistério da existência e que transcende questões como: "Em que Deus
você acredita?" ou "Que igreja você frequenta?". Por
espiritualidade, entendemos a relação do ser humano com o mistério da
existência — disse Gleiser ao GLOBO por telefone, de Hanover, em entrevista
exclusiva.
O físico conta que, na comunidade
científica, há "ateus ferrenhos, que acham espiritualidade e religião uma
perda de tempo" e também cientistas que são "religiosos ortodoxos,
cristãos, muçulmanos, judeus, budistas, pessoas que acreditam quanto mais
entendem a natureza mais entendem a criação divina".— No meu trabalho como cientista, minha pesquisa é muito
mais ligada a questões fundamentais sobre a origem do universo, a origem da
vida, do que sobre como criar um microchip melhor para fazer um iPhone
funcionar mais rápido, por exemplo. Minhas questões são mais existenciais —
explica Gleiser. — O grande ponto é que hoje em dia é possível trabalhar em
ciência e em questões que tenham uma natureza filosófica, sobre o significado
da vida, da nossa relação com a natureza. É nessa parte que eu me encaixo.
Ao anunciar o prêmio, a presidente da Fundação Templeton,
Heather Templeton Dill, disse que Gleiser incorpora os valores que inspiraram
seu avô (John Templeton) a criar o prêmio e a instituição. Segundo Heather, o
trabalho do cientista brasileiro incorpora dois valores especialmente
importantes para a fundação: "a busca da alegria em todos os aspectos da
vida e a profunda experiência humana de maravilhamento e contemplação".
"Ele mantém a mesma sensação de maravilhamento contemplativo
que experimentou pela primeira vez quando criança na praia de Copacabana,
contemplando o horizonte ou o céu noturno estrelado, curioso sobre o que está
além", acrescentou Heather, em texto divulgado pela instituição.
'Engajamento com o mistério'
Um dos mais conhecidos cientistas brasileiros, Gleiser rejeita a noção
de que exclusivamente a ciência pode chegar a verdades sobre a realidade. O
físico, por outro lado, diz que, por meio de seus escritos, tenta "colocar
a ciência como uma ferramenta de nossa busca por um entendimento maior da
condição humana". Para ele, a ciência é "o engajamento com o mistério"
Fonte: g1.globo,com
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