Homem morre em casa e família leva corpo enrolado em lençol para UPA após 5 horas tentando ajuda de órgãos públicos
Homem morre dentro de casa e família precisa levar
corpo enrolado em lençol com a ajuda de vizinhos em Cabo Frio — Foto:
Reprodução/Inter TV RJ
Um homem de 54 anos morreu dentro de casa no bairro
Praia do Siqueira, em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, na tarde desta
terça-feira (16) e a família dele precisou levar o corpo, por conta própria,
para uma UPA, depois de ficar cerca de 5 horas tentando ajuda de algum órgão
público que pudesse remover o corpo do local.
Os familiares de João Carlos Pereira Coelho contaram
com a ajuda de amigos para levar o corpo.
"Ele saiu daqui enrolado no lençol que ele morreu
e na caminhonete do vizinho. Isso é um descaso", disse a sobrinha de João,
Pollyana Lemos.
Segundo a família, o homem morava no mesmo quintal da
família, era alcoólatra e, quando não ingeria bebidas alcoólicas, tinha ataques
e se trancava dentro de casa para dormir.
João Carlos tinha cinco filhos. A mãe dele precisou
ser medicada para receber a notícia da morte do filho.
Por volta das 15h desta terça, João tinha se trancado
em casa, mas desta vez os familiares o chamaram e ele não respondeu. Quando
entraram na casa, o encontraram morto.
De acordo com os familiares, após constatarem a morte,
eles tentaram contato com vários órgãos.
Primeiro, os parentes ligaram para o Corpo de
Bombeiros, mas foram informados que teriam que acionar uma funerária. Em
seguida, eles disseram que ligaram para funerária e foi cobrado o valor de R$ 3
mil.
A família não tinha condições de arcar com a despesa e
entrou em contato com a Assistência Social do Município. A assistente social
então teria dito à família que eles precisariam levar o corpo pra UPA por conta
própria.
"E a pessoa que não tem condições de dar R$ 3 mil
reais pra funerária? Vai fazer o quê? Vai abrir um buraco no quintal e jogar o
corpo ali?", disse a sobrinha.
Os familiares alegam ainda que tentaram pedir a ajuda
da Polícia Civil, que também não cooperou.
O corpo ficou até às 20h dentro de casa e, como nenhum
órgão prestou assistência, a família seguiu a orientação da assistência social
e, com a ajuda dos vizinhos, levou o corpo para a UPA do Parque Burle.
O corpo de João Carlos passou por procedimentos
necessários e foi encaminhado para o IML de Macaé para identificação da causa
da morte.
O que dizem os órgãos?
Questionada sobre a falta de atendimento à família, a Prefeitura
de Cabo Frio informou que a remoção e verificação de óbito não é feita pelo
município. E disse ainda que o município "é responsável pela verificação e
remoção apenas em casos de óbitos dentro das unidades de saúde".
O G1 verificou que, em 2006, foi criado no
município de Cabo Frio o Serviço de Verificação de Óbito (SVO). A lei que foi
aprovada pelo então prefeito Marcos Mendes diz que "para os casos de morte
em residência sem assistência médica, será necessária a autorização da
autoridade policial responsável".
O município informou que só realiza a remoção do óbito
nas residências de famílias que se enquadrem nos critérios de Benefício
Eventual de Auxílio Funeral. Disse ainda que a secretaria de Assistência Social
atende com os serviços de remoção, traslado e funeral e que para isso, a
família precisa informar ao setor que funciona em regime de plantão.
A prefeitura disse ainda que "lamenta e esclarece
que a Secretaria não foi informada". O município ressaltou que "assim
que a secretaria foi acionada, foi feita a entrevista de perfil socioeconômico
e a situação foi resolvida".
Questionada sobre a Lei que criou o SVO, o município
informou que a Lei não dispõe sobre remoção do óbito, apenas verificação.
O G1 entrou em contato com a Polícia Civil
para saber o motivo da delegacia não ter prestado socorro à família, a
assessoria da Polícia Civil informou que "de acordo com a 126ª DP, em
casos de mortes por causa natural, o responsável pelo atestado é o serviço de
verificação de óbito dos municípios".
O G1 entrou em contato com a assessoria do
Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro para saber o posicionamento da
corporação sobre o caso.
O G1 também entrou em contato com a
Prefeitura de Cabo Frio pedindo mais detalhes sobre como funciona o Serviço de
Verificação de Óbito e aguarda o retorno.
Fonte: g1.globo.com
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