Entre o vai e vem de pacientes na Unidade de Saúde da Ponta do Ambrósio
Kelly Costa da Silva retoma seu cotidiano e volta a exercer suas funções como
enfermeira. Seguindo as medidas preventivas impostas pela pandemia, ela vive a
nova “vida normal”, após vencer a batalha contra o coronavírus. De frente para
a Lagoa de Araruama, com a vista de uma natureza que contempla e reforça o
valor de cada dia de vida, ela se emociona ao lembrar da nova oportunidade de
viver. Assim como as águas salgadas banham a margem, o rosto se entrega às
lágrimas discretas, a cura chegou, mas os ensinamentos deixados pela Covid-19
não serão esquecidos. Uma das vitoriosas na guerra contra o vírus, que impactou
todo o mundo, a profissional de saúde é um dos rostos que hoje podem sorrir
após derrotar um inimigo invisível.
“Foram dias muito complicados
para mim e para minha família. Meu filho, de dois anos, passou a sentir os
sintomas, assim como meu marido e a minha mãe. Eu passei quatro noites sem
dormir, não sabia se ajoelhava e orava, se levantava ou se andava pela casa. A
gente sempre teve fé de que tudo isso ia passar, mesmo com as dores e a
preocupação. Quando fiquei internada, tive muito carinho da equipe com a qual
trabalho e no Pronto-socorro. É angustiante se tornar paciente. A gente sabe
todos os procedimentos que precisam ser feitos, mas é muito difícil, mesmo com
toda a confiança que a gente tem. A chegada da cura é um alívio”, revelou
Kelly.
Reunindo histórias de esperança e superação, a Prefeitura de São Pedro
da Aldeia traz depoimentos de cidadãos que se viram frente a frente com um
diagnóstico positivo para Covid-19 e restabeleceram sua saúde.
O DIAGNÓSTICO
Maria Coutinho tem um cotidiano muito semelhante à diversos aldeenses:
tempo corrido, buscando formas de sustentar a família. O trabalho diário para
cuidar dos filhos e o cansaço da rotina lhe tiraram a atenção aos primeiros
sinais que o corpo apresentava demonstrando que algo não estava bem. Assim como
tantos aldeenses, a mulher, de 40 anos achou que era apenas trabalho demais. “É
triste, mas muitas vezes a gente não tem tempo de se cuidar. Você aprende a
viver com uma dorzinha aqui, um cansaço ali e vai seguindo a vida, porque é
isso que o trabalho corrido pede. Eu só percebi alguma coisa estranha quando
não sentia cheiro de nada e a comida estava sem gosto”, relembrou.
Do primeiro sintoma até o fim do isolamento domiciliar foram longos
dias. A dona de casa, acostumada às tarefas e a ser extremamente receptiva,
precisou reescrever seu dia a dia. Era a hora de cuidar de si mesma e se
resguardar, o objetivo era estar 100% bem. “Tive medo de piorar e de não
conhecer meus netos. Quando a gente percebe que tá melhorando é libertador.
Você volta a recuperar sua saúde e o corpo já responde. Parece que a vida dá
uma chamada na gente. Tem que ter esperança até o final, a gente se recupera e
se torna um vencedor”, comemorou.
A VITÓRIA
Mais do que 430 aldeenses
que venceram à doença, os curados da Covid-19 em São Pedro da Aldeia
são símbolos de uma luta iniciada em 30 de março de 2020, data na qual o
município registrou o seu primeiro infectado pelo coronavírus. Após quase cinco
meses de batalha contra um adversário ameaçador, alguns pacientes enxergam uma
nova oportunidade de vida após a plena recuperação da saúde.
Cíntia Sereno, de 43 anos, ficou afastada do trabalho por longos 35
dias. A moradora aldeense lutou contra a Covid-19, mas viu o vírus chegar à sua
casa e contaminar quatro familiares. Hoje ela comemora a vida e não se esquece
de quem rezou por toda sua família. Agora curada, os obstáculos vencidos
na batalha contra a Covid-19 abriram um novo prisma, a visão de quem é grato
por estar vivo.
“Quando eu tinha 19 dias de
infectada, pensei que já poderia voltar a trabalhar, mas descobri que estava
com 50% do pulmão comprometido pela Covid-19. Tive que ser internada
por cinco dias para um tratamento mais severo. A Covid-19 na minha vida foi
muito difícil. Às vezes você pensa que é uma doença boba, mas quando recebe o diagnóstico
e aparecem os sintomas, que são muito diferentes de tudo, você começa a
repensar sua saúde”, disse a profissional, com mais de duas décadas de serviços
prestados à enfermagem.
A CONSCIENTIZAÇÃO
Mesmo com os finais felizes, o discurso entre todos os pacientes curados é
o mesmo. Não se pode normalizar os riscos do coronavírus, é preciso que a
população abrace a responsabilidade da saúde coletiva, preservando a sua vida e
a do próximo.
“O novo normal da nossa vida, após a infecção pela Covid-19, foi muito
importante para que pudéssemos repensar como seria a nossa vida daqui pra
frente. O nosso novo normal é sempre se cuidando e se prevenindo, tem a
máscara, tem a lavagem das mãos com água e sabão e o álcool, mas tem que ter a
consciência. A minha família está tendo uma nova visão de vida. Deus nos
permitiu que a gente ficasse para contar o nosso testemunho. A cada dia eu
agradeço por estar aqui e cuidando das pessoas que precisam”, lembrou Cintia.
RESSIGNIFICAR O TEMPO
A histórica da pandemia da Covid-19 redesenhou a vida de inúmeras
famílias e ressignificou o cotidiano, trazendo novos valores e prioridades. Se
antes os dias de folga eram voltados apenas ao descanso, agora Kelly valoriza
cada segundo junto com os filhos. O cenário criado pela doença fez todo o tempo
de vida ser avaliado. Com uma ambulância na porta da sua casa, Kelly saiu no
portão sem saber como e o que a esperava. Mediante a sua saúde sendo posta à
prova, a mãe, esposa e filha enxergou um novo significado para a vida.
“Hoje a gente precisa valorizar e viver o dia como se fosse o último.
Quando fui internada, eu deixei os meus filhos em casa com o meu marido também
doente e, ali, eu não podia fazer nada. Era o desespero de uma despedida, na
qual eu não sabia quanto tempo ficaria longe deles. Passou um filme na minha
cabeça, que eu poderia ter exigido menos deles, ter brincado mais e aproveitado
o tempo com eles. A gente não pode se prender tanto em ganhar dinheiro, mas em
se dar para nossa família. Afinal, eu saí e voltei curada, mas a gente não
tem certeza de nada na vida”, disse emocionada.
CORONAVÍRUS E OS ENSINAMENTOS
Na área profissional, a enfermeira Kelly se viu completamente mudada. A
humanidade com o paciente, mais do que nunca, está em primeiro lugar. Com o
seio familiar recheado de amor, era a hora de reavaliar a profissão.
“Ao mesmo tempo que foi difícil estar no leito, foi uma experiência de
crescimento. Eu estou há 18 anos na enfermagem e sempre pedia a Deus que
tivesse uma profissão na qual eu pudesse estar apaixonada todos os dias. Estar
paciente fez com que o meu amor pela profissão fosse ainda mais reavivado. A
paciência e a necessidade de humanização com as pessoas foram recuperadas. O
amor foi renovado para enxergar o outro de forma diferente, tratar o outro da
forma como a gente gostaria de ser tratado”, relatou.
O CURADO
Para ser considerado curado, um
paciente infectado pelo coronavírus deve apresentar mais de quatorze dias do
exame positivo e mais 72 horas sem qualquer sintoma aparente, com pleno
bem-estar. Sem um protocolo de testagem em massa definido pelo Ministério da Saúde,
a ausência de sintomas vem sendo adotada para justificar e respaldar a cura da
Covid-19.
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