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Fernando Collor de Mello de tailleur


Pedro Nascimento Araujo

Dilma Rousseff certamente anotou a data de 08/03 em sua agenda. Talvez ela ainda não saiba, mas foi um dia comparável ao dia no qual alguém é informado de que tem uma doença incurável: dali em diante, a contagem é regressiva. Desde 08-Mar-2015, para Dilma Rousseff, tudo o que lhe resta é administrar o tempo que lhe resta até 31-Dez-2018. O panelaço do Dia da Mulher já entrou para a história como a primeira vez que um presidente foi vaiado ao vivo em todo o país, em um protesto instantâneo que se espalhou como fogo em pólvora durante a transmissão em cadeia nacional. Um grande feito, sem dúvidas. O arroubo de cidadania de ontem, que nos coloca pela primeira vez em igualdade cívica com nossos vizinhos platinos, vale a pena ser esmiuçado: o fiasco de ontem é um dos raros epitáfios aprovados pelo autor em vida. Há, todavia, um paralelo na história recente nacional: 16-Ago-1992. Foi um domingo, o dia no qual as pessoas expressaram claramente que não suportavam mais ser governadas por Fernando Collor de Mello. O Marajá da Dinda, com a popularidade a zero, atolado em denúncias de corrupção e com a economia em frangalhos, talvez pensando ser presidente de outro país que não o Brasil, teve um arroubo de arrogância: tentou se fazer passar por vítima e pediu à população que vestisse verde e amarelo no fatídico domingo para demonstrar o apoio a ele. Deu chabu: todo mundo vestiu preto e, daquele domingo em diante, o calendário de Fernando Collor de Mello passou a contar os dias que faltavam para que ele fosse defenestrado do Palácio do Planalto. A julgar pela maneira desastrosa com a qual se dirigiu aos brasileiros ontem, Dilma Rousseff parece realmente determinada a seguir os passos de Fernando Collor de Mello: seu fim começou ontem, e as maciças manifestações de rua que tomarão o Brasil no próximo domingo apenas corroborarão isso. Até 31-Dez-2018 ainda falta muito tempo, mas, politicamente falando, o governo dela já acabou e a ela restará arrastar correntes por quase quatro anos. Pode começar a contar os seus dias restantes, senhora presidente: a senhora se esforçou muito para conquistar a antipatia de um país inteiro, como se fosse uma versão de Fernando Collor de Mello vestindotailleur.

O Dia Internacional da Mulher é uma data de muita importância, momento ideal para a primeira mulher a ocupar a Presidência da República (mas não a primeira a governar o Brasil: além das regências da Princesa Isabel, D Maria I de Portugal ainda era rainha de jure quando da elevação do Brasil a Reino Unido com Portugal e Algarve, em 1815) falar sobre conquistas e desafios das mulheres. O cipoal de crises no qual ela e seu governo se meteram por iniciativa e vontade próprias (crise política, crise econômica, corrupção etc.) poderia ser relevado pela população em um momento tão especial – o Dia Internacional da Mulher. Mas, não. Dilma Rousseff levou a habitual arrogância do PT ao paroxismo e ocupou minutos em cadeia nacional para se defender e tratar o povo como idiota. Foi patético, para dizer o mínimo. Dilma Rousseff citou o Dia Internacional da Mulher apenas no primeiro parágrafo de seu longo discurso e falou vagamente em mulheres por mais dois breves parágrafos. E só. Já no quarto parágrafo, ela perdeu indelevelmente qualquer boa vontade da audiência: em sua arrogância (é inconcebível que nenhum assessor tenha vetado esse discurso desastroso!) disse que as mulheres eram burras de uma forma pouco sutil – falou que “ninguém é melhor do que uma mulher para sentir”, mas que “há um longo caminho entre sentir e entender”. Pronto: disse que as mulheres são burras na cara dura em um pronunciamento que deveria ser para homenageá-las pelo Dia Internacional da Mulher e queria o quê em troca? Apoio? Solidariedade? Obviamente, não. Dali em diante, ninguém mais queria ouvir uma palavra sequer dela. As pessoas começaram a bater panelas nas principais cidades do país. Luzes piscavam, vaias espocavam nas janelas, carros faziam buzinaços em apoio. Tudo o que a população ainda tinha esperança de receber dela era uma contrição sincera e um pedido pública de desculpas pelos erros que cometeu. Tinha boas chances de ser perdoada. Mas nada disso veio: veio apenas ainda mais arrogância, muita, muita arrogância.

Dilma Rousseff mentiu durante a campanha eleitoral. Ela sabia exatamente a situação de caos na economia e disse que estava tudo bem, dizendo que a oposição era formada por “Pessimildos”. Ela sabia que a energia elétrica teria de ser aumentada porque sua decisão de baixar as tarifas na canetada estava gerando um passível insustentável. Ela sabia que a gasolina e o óleo diesel teriam de subir porque sua decisão de usar o caixa da Petrobras para conter a inflação já havia custado 60 bilhões de erais e estava asfixiando a empresa. Ela sabia que os juros teriam de subir porque a inflação só não rompeu o teto da meta devido ao insustentável represamento de preços. Ela sabia de tudo isso e também sabia quais seriam as medidas que teria de tomar após ficar mais do que patente que a Nova Matriz Macroeconômica de Dilma Rousseff e Guido Mantega, a dupla dinâmica mais estática da história, havia naufragado fragorosamente. Sabendo de tudo, negou tudo. Não três vezes, como Pedro negou Cristo, mas centenas de vezes durante a campanha. Acusou virulentamente os adversários de fazer o que está fazendo agora. E, na hora de fazer sua contrição, não fez como Pedro: não se arrependeu e, com uma arrogância sem paralelos, jogou a culpa de tudo para uma invisível crise mundial (duro acreditar nisso quando a maioria dos países no mesmo nível de renda do Brasil – e mesmo países ricos, como os Estados Unidos – está crescendo mais do que a gente há anos) e não assumiu seus erros. Pelo contrário: em uma declaração para entrar para os anais da prepotência, disse que decidiu “corajosamente, mudar de método”, não admitindo em nenhum momento que o método anterior, escolhido por ela, foi a causa da atual crise. Não é possível que ela ache que alguém com QI acima de 40 é capaz de acreditar nisso. Ela também mentiu quando disse que os efeitos do ajuste são “temporários”. Não, não são, e ela sabe perfeitamente bem disso – a situação deve piorar ainda muito antes de melhorar, se é que vai melhorar ainda em seu governo. Pior: Dilma Rousseff se queixou de críticas “injustas e desmensuradas” ao seu governo. Sim, ela tentou fazer-se de vítima, no melhor estilo Fernando Collor de Mello poucos meses antes do impeachment em 1992. Disse que a população será capaz de aguentar o sacrifício. Pensa que é Churchill, mas não passa de um Fernando Collor de Mello de tailleur: ela não tem estofo moral para oferecer “nada além de sangue, trabalho duro, suor e lágrimas” aos seus comandados, como fez o inglês durante os dias mais sombrios da II Guerra Mundial. Simplesmente, Dilma Rousseff não tem humildade, não tem autocrítica e não tem caráter: mentiu para ganhar a eleição e, uma vez que ganhou, fez exatamente aquilo que dizia que os adversários fariam, em outro momento no qual se iguala a Fernando Collor de Mello.

Dilma Rousseff disse que faria “o diabo” para ganhar a eleição. Fez. Dilma Rousseff firmou um pacto faustiano: não poderia esperar que o Cão não viesse cobrar o que é dele por direito. Os problemas do governo dela estão fora de controle – e por culpa única e exclusiva dela. Dilma Rousseff tratou a população como desmemoriada e imbecil durante o seu deplorável pronunciamento do Dia Internacional da Mulher, desde já um clássico para ser estudado nos manuais de ciência política como exemplo do que um político nunca deve fazer. Dilma Rousseff mereceu cada panelada e cada vaia que recebeu ontem – e, com isso, turbinou os próximos protestos contra ela. Quando Saturnino Braga, um homem reconhecidamente honesto e um parlamentar muito atuante, foi prefeito do Rio de Janeiro (1984-1988), o resultado foi terrível: a cidade literalmente declarou falência no final do seu mandato – e dele se disse que foi “o homem que conseguiu desmoralizar a honestidade.” Pois bem: de Dilma Rousseff, a primeira mulher a ocupar a Presidência da República, pode-se dizer que foi “a mulher que conseguiu desmoralizar as mulheres”, dizendo que elas são capazes de sentir, mas incapazes de entender, exatamente como qualquer animal irracional. Uma declaração dessas é um acinte inexplicável, inescusável e inesquecível. A Dilma Rousseff, resta apenas contar os dias até sua saída em 31-Dez-2018: desde 08-Mar-2015, ficou evidente que seu governo acabou. A nós, brasileiros, resta apenas aguentar mais quase quatro anos de um governo que é um espectro do que poderia ter sido, porque a arrogância de Dilma Rousseff estragou tudo o que poderia ter sido bom e toda a boa vontade que a população teve para com ela. Até nisso ela se prova, cada vez mais, uma espécie de Fernando Collor de Mello de tailleur. Pobres de nós, brasileiros.


Pedro Nascimento Araujo é economista.

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