O momento atual da pandemia é tratado como uma
incógnita por especialistas. Para o médico sanitarista Beto Nogueira, não está
claro que se trata de uma segunda onda da doença.
"A gente não sabe se é uma segunda onda, afinal,
o Brasil nem saiu da primeira onda. O que estamos vendo é um agravamento que é
resultado do afrouxamento das restrições impostas para aglomerações. A abertura
das cidades, principalmente no caso das cidades turísticas, certamente irá
provocar uma mudança no cenário. O que vimos no último fim de semana no cais de
Arraial do Cabo foi impressionante. Parecia que tinham inventado a vacina da
Covid. Situações como essa acabam se refletindo alguns dias depois nas unidades
de saúde", afirma o sanitarista.
Arraial vem chamando atenção no combate à Covid
porque, no dia 17 de novembro, dois dias depois da eleição municipal, o
prefeito Renatinho Vianna, que não conseguiu se reeleger, baixou um decreto
suspendendo a barreira sanitária que já durava oito meses na entrada da cidade.
A medida permitiu a entrada em massa de turistas na cidade. No último fim de
semana, emendado pelo feriado do Dia da Consciência Negra, na sexta-feira (20),
praias e pontos turísticos como o Cais da Praia dos Anjos, de onde saem os
passeios de barco, ficaram lotados.
Mesmo ainda sem o impacto deste fim de semana de
cidade cheia, os números mostram um retorno do aumento nos casos em Arraial do
Cabo. Quando novembro começou, a cidade estava com 316 casos registrados. O
número subiu para 388 no dia 25. O número de óbitos permanece o mesmo: 16 (o
último foi registrado no dia 25 de outubro. Segundo a Secretaria de Saúde de
Arraial do Cabo, a decisão de retirada da barreira foi tomada após
avaliação do relatório do Governo do Estado indicando baixo risco de
transmissão, divulgado no início do mês.
"O índice de contaminação em Arraial permanece o
mais baixo da Região. A medida pode ser revogada caso a cidade apresente
índices crescentes nas próximas semanas", afirma a Prefeitura em nota.
O secretário de Saúde, Paulo Tripoli, garante que a
cidade não baixou a guarda em relação à doença.
"A situação do Covid, na realidade, nunca parou.
Estão dizendo que é uma segunda onda, como na Europa, mas não é. Estamos com um
aumento grande de testagem desde a semana passada, pois as pessoas estão
alarmadas e procurando atendimento quando acham que estão apresentando qualquer
um dos sintomas. Muitos dos casos, até o momento, testaram negativo. O aumento
do número de testados positivos se dá a partir do momento que as pessoas
pararam de fazer o dever de casa. O distanciamento social, que é necessário,
não está sendo feito e podemos ver isso principalmente à noite", afirma o
secretário, completando:
"Nossa capacidade instalada no momento está em
torno de 50%, mas isso não quer dizer que estamos relaxados. A preocupação de
todos são as confraternizações de final de ano, quando as pessoas se reúnem e
se descuidam. O município não vai promover eventos, pois o decreto de suspensão
permanece em vigor", garante ainda.
Em Cabo Frio, a preocupação está relacionada aos
relatos de aumento na procura de unidades de saúde. Para a secretária-geral do
Sindicato dos Servidores Municipais (Sindicaf), Daiana Olegário, que também é
membro do Conselho de Saúde de Cabo Frio, houve falha na aplicação dos recursos
durante a pandemia na cidade.
"Como investiram no hospital de campanha, o
Unilagos, agora a doença está voltando e não temos mais o hospital. Foi um
investimento muito mal feito, que não favoreceu a cidade. Agora temos pessoas
aguardando atendimento e os casos aumentando depois do decreto que liberou a
cidade. Vemos mortes todos os dias, faltam medicamentos, insumos e EPI's para
os funcionários. Sem falar nas demissões que estão trazendo sobrecarga para os
demais servidores na linha de frente. Cabo Frio está prestes a ter um colapso a
qualquer momento", afirma ela.
A Prefeitura de Cabo Frio nega tal gravidade na
situação e garante que equipamentos, medicamentos e profissionais estão
disponíveis nas unidades de saúde. A rede municipal de saúde dispõe, no
momento, de 22 leitos de UTI exclusivos para pacientes com Covid-19, sendo que
na atualização feita pela Secretaria Municipal de Saúde nesta quinta-feira
(26), oito leitos estão ocupados e 14 livres (taxa de ocupação de 36%). Em
relação aos leitos de enfermaria, são 16 no total: 10 estão ocupados e seis
livres (taxa de ocupação de 63%).
As taxas de ocupação vêm se mantendo constantes nos
últimos sete dias. Até o dia 10 de dezembro, a Prefeitura de Cabo Frio promete
colocar à disposição da população mais 10 leitos de UTI no Hospital Municipal
de Tamoios, exclusivamente para pacientes com Covid-19.
Sobre o aumento na procura de pacientes com sintomas
do novo coronavírus na unidade de referência, a UPA do bairro Parque Burle, a
Secretaria de Saúde alega que a unidade "recebe pacientes das cidades
vizinhas, muito em decorrência da diminuição das ações no controle da COVID-19
nestas cidades".
"Ampliamos o atendimento no Jardim Esperança, na
primeira quinzena de dezembro vamos reabrir o Hospital de Tamoios com mais 10
leitos para Covid, ficando com mais leitos do que na época do Unilagos. Mas o
ideal é não precisar e para isso, não apenas o poder público, mas todos nós
precisamos nos proteger", afirma o secretário de Saúde, Bruno Alpacino.
Em uma semana, os casos registrados em Cabo Frio
saíram de 3.575 (19/11) para 3.672 (26/11). O número de mortes, no mesmo
período, aumentou de 179 para 181.
O prefeito Adriano Moreno considera que a rede de
saúde está preparada para o novo momento.
"O que houve é o resultado das semanas que
antecederam a eleição. Muita aglomeração com passeatas e até comícios, que
estavam proibidos pelo decreto. Mas estamos relativamente tranquilos, porque a
nossa rede municipal de saúde está pronta para atender a demanda. Lembrando que
vamos receber um reforço a partir do começo de dezembro, que é o Hospital de
Tamoios, que vai ter leitos de UTI para atender a população do Segundo
Distrito", afirma ele.
Búzios: ocupação de leitos em 90%
Em Búzios, a Prefeitura afirma ter intensificado e
ampliado medidas de combate função do "grande aumento no número de casos
confirmados" e "o relaxamento da população em relação ao cumprimento
dos protocolos de segurança sanitária", segundo a Secretaria de Saúde,
fazendo com que as unidades de saúde estejam "um pouco
sobrecarregadas".
Segundo a Prefeitura, a taxa de ocupação da enfermaria
do Hospital Municipal Rodolfo Perissé para casos de Covid-19 está em 90%.
"O prefeito em exercício Henrique Gomes
determinou a adoção de ações em diversos setores da cidade, envolvendo o
trabalho de todas as secretarias. As barreiras sanitárias localizadas nas duas
entradas do município, Rasa e Centrinho, seguem operando normalmente, com a
presença de agentes de saúde que realizam a aferição de temperatura de todos
que chegam a Búzios. Nesses locais, guardas municipais e guardas marítimos
ambientais conferem a documentação de moradores, trabalhadores e visitantes.
Para entrar no município é necessário apresentar comprovante de residência ou
vínculo de trabalho na cidade. Visitantes devem apresentar o QRCode emitido
pelos estabelecimentos comerciais e meios de hospedagem", diz nota da
Prefeitura.
Em São Pedro, situação mais tranquila
Até esta quinta-feira (26), às 12h30, São Pedro da
Aldeia registrou 1.801 casos confirmados de Covid-19, com 1.205 pacientes
curados e 76 mortes, segundo os dados da Prefeitura. Nos últimos dez dias a
cidade registrou 108 novos casos.
De acordo com a Secretaria de Saúde, não existe
superlotação. As unidades de saúde da rede de Atenção Básica estão realizando
atendimentos nos bairros e o Pronto-socorro segue absorvendo as demandas
gerais.
"Atualmente a Unidade Intermediária do
Pronto-Socorro Municipal, que atende casos agravados de Covid-19, conta com 8
leitos equipados e apenas 1 ocupado. O Centro de Triagem Covid-19, instalado em
frente ao Pronto-socorro, segue em funcionamento das 8h às 20h. O Gabinete de
Crise, coordenado pela Secretaria de Saúde, já convocou, em caráter de
urgência, uma reunião extraordinária, a fim de avaliar o cenário epidemiológico
e traçar novas medidas preventivas", garante a Prefeitura em nota.
Para a secretária de Saúde, Francislene Casemiro, é
preciso evitar exposições desnecessárias.
“Estamos registrando uma subida de casos no município
e em alguns bairros especificamente. Precisamos contar com a colaboração de
cada morador, seja ele do grupo de risco ou não, jovens ou idosos. Com a
chegada do verão e a entrada na alta temporada é preciso acender o alerta, a
pandemia não acabou e a Covid-19 é uma doença muito grave. A segunda onda é uma
realidade no nosso país, precisamos da colaboração da população. Essa ação
individual preserva a saúde e a vida dos seus familiares, dos vizinhos e de quem
amamos”, reforça a secretária.
Fonte: folhadoslagos.com
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