A maioria das pessoas - e dos
autores - imaginam que a vida dos grandes dramaturgos sempre foi para repetir
um lugar-comum, um mar de rosas. Quando vi a apresentação da leitura dramática
dos alunos do Curso Oficena no Charitas lembrei-me de uma passagem.
Um famoso diretor estava em palco ensaiando, quando viu um desconhecido sentado numa das cadeiras da última fileira da platéia. Estranhou, já que não era permitido que alguém que não fosse da companhia assistisse aos ensaios.
- Conhece aquele sujeito? - indagou a um de seus assistentes.
- Não conheço. Disse que viu a porta do teatro aberta e entrou.
- Diga-lhe que não é permitida a presença de estranhos em nossos ensaios.
- Já disse, mas ele me respondeu que não é nenhum "estranho", mas um bom autor de teatro e que só vai embora depois de conversar com o senhor.
- Autor de teatro... Essa gente é pior que carrapato e só me vem com peça ruim. Já sei o que esse sujeito quer.
De fato, sabia. Irritado, interrompeu o ensaio e foi ter com o autor que, é evidente, já estava com o texto na mão e passou-o ao diretor, não sem antes elogiar seu próprio trabalho.
- Esta minha peça não é uma peça qualquer, não. É uma autêntica obra-prima! Quanto tempo você vai levar para ler?
"Que pretensioso!", pensou o diretor. "Diz que seu próprio trabalho é uma obra-prima e me impõe prazo para ler. Quem esse sujeitinho pensa que é?"
- Uma semana, uns dez dias - respondeu o diretor ao acaso, ainda mais irritado.
- Tanto tempo assim? Uma peça de teatro a gente lê no máximo em uma hora... Volto daqui a uma semana.
De fato, voltou dali a uma semana. Minutos antes de começar o ensaio, o autor subiu ao palco, abriu caminho entre os atores, indo direto ao diretor, perguntando-lhe, de imediato, se havia lido a peça.
- Não tive tempo,
Aí o autor se irritou:
- Dei o prazo de uma semana para você ler o meu texto e vem me dizer que não teve tempo! Não teve nem ao menos uma hora?!... Que absurdo!... Devolva minha peça já!
Embaraço do diretor. Havia deixado o texto em casa, numa gaveta da escrivaninha. Foi o que explicou ao autor, deixando-o ainda mais indignado:
- Que desaforo! É essa a consideração que você tem pelo trabalho dos outros?... Agora eu é que não quero que você leia! Vou buscar a minha peça hoje mesmo na sua casa, à noite.
Foi. Só que, para sua grata surpresa, o diretor lera o texto e simplesmente ficara maravilhado. "Esse chato tem razão: é mesmo uma obra-prima!" - balbuciou quando terminou de ler e decidiu montar o texto logo depois da estréia da peça que estava ensaiando.
Personagens desse episódio da vida real: o cineasta Elia Kazan e o dramaturgo Tennessee Williams.
Então viram só como vale mesmo a
pena insistir junto a atores, diretores, produtores? Quem sabe você não tenha
criado uma obra-prima que está pedindo, implorando para se projetar? E quando
há um Oficena, então...
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